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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Os dois rochedos - por Pe. Matias de Bremscheid



Existem dois rochedos, que podem ser danosos para a juventude hodierna, e contra os quais infelizmente se despedaçam não poucas moças. São eles as amizades levianas e os maus livros.

Não tenhas amizade com pessoas de sentimentos levianos

É coisa muito importante saber escolher as amizades. Com os bons serás boa, com os maus tornar-te-ás má. Se a gota da chuva cair sobre a flor, converte-se-á em gota de orvalho e brilhará à luz do sol, qual pérola preciosa; mas se cair sobre a poeira da rua, tornar-se-á lama, lodo.

A mocidade, facilmente, cria simpatia e amizades, o caráter vivo, entusiasta e aberto dos jovens inclina-os a procurar comunicação e correspondência.

A consciência de sua inexperiência, estimulada pelo isolamento e solidão, desperta no jovem o desejo de se unir a outrem e encontrar um coração que pulse em uníssomo com o seu, numa sintonia de afetos e ideais.

Esta inclinação afetiva pode ser uma cilada à pureza da jovem, principalmente por causa de sua suscetibilidade à impressões várias, devido ao caráter terno e maleável, e pelo espírito elástico e irrequieto, que se deixa facilmente empolgar.

Como poderão as palavras carinhosas de um amigo não produzir-lhe uma impressão que dificilmente se apagará?! Como certos princípios não atuarão sobre ela de maneira perniciosa? Como os seus atos não a estimularão a imitá-la? Não é este um fato constatado quando existe certa semelhança de caráter, igualdade de gênio; ou quando as pessoas amigas se distinguem por talentos magníficos, por sua amabilidade natural e proceder atraente, por agradáveis dotes de conversação, por certa ousadia à qual dificilmente se resiste?

Quão pernicioso não será para ti a convivência com tais pessoas, se forem acostumadas com conversas levianas contra a religião e os bons costumes! Como não te hás de tornar, em pouco tempo, vacilante na tua santa fé e na virtude!

Embora tais conversações, no começo, te repugnem sobremodo, ainda que tenhas recebido aprimorada formação e gozes de natural tendência para o bem, o mau influxo de tal amizade não desaparecerá, principalmente se houver assídua convivência e trato recíproco. Dia a dia as gotas do veneno imoral irão penetrando na tua alma até que enfim perderás de todo o bom espirito e te perverterás.

Tudo isto se verifica se as pessoas, com quem manténs amizade e convivência, são jovens que não possuem nenhum fundamento sólido de formação religiosa e moral; mas isto dez vezes mais se verifica se essas pessoas pertencerem ao sexo masculino.

Como se explica que muitas moças se desviam cegamente e caem em perdição? A razão principal é esta: que elas inadvertidamente e sem aquiescência dos pais alimentam amizades com algum rapaz.

Ainda que estes fossem anjos, mesmo assim os passeios clandestinos, em horas impróprias e lugares incovenientes seriam verdadeiras ciladas para as incautas. Se alimentares tais amizades podes estar certa de que caíras no laço do inimigo; esforça-te, o mais possível, por te libertares dele quanto antes, e não te impeça a tua natural afeição ao reconhecer o perigo. Exerce vigilância sobre o teu coração e sê cautelosa!

Não te deixes seduzir por maneiras amáveis, olhares fascinantes e palavras melífluas; mostra-te, sempre, com ânimo forte, e governa-te pelas máximas e preceitos da santa Fé e da reta consciência.

Só com o conhecimento e aquiescência de teus pais e vigiada por eles..., podes travar relações de amizade com algum bom rapaz com o qual tenciones casar, e deverás, naturalmente, conservar-te sempre dentro dos rigorosos limites da decência cristã.

Além disso, relações de amizade só as terás com poucas moças, que tomam a sério os seus deveres, quer religiosos, quer outros, o que poderá fortalecer-te em tudo que é bom e agradável a Deus. Semelhante amiga é um dom inestimável do Senhor e uma grande felicidade para ti, sobremodo se te achares em lugar estranho e longe da casa paterna.

O convívio com ela dar-te-á segurança e proteção contra muitos perigos, e te comunicará alegria e ânimo para o bem. Se a tiveres encontrado, permanece-lhe fiel, que daí só te provirão abundantes bênçãos. Aviso-te, porém, seriamente: evita, o mais que puderes, toda convivência com moças vaidosas e frívolas.

Abstém-te outrossim de livros dúbios, que discorrem leviamente sobre coisas religiosas, que despertam pensamentos e desejos impuros e sensuais. São tais livros, por assim dizer, amigos sem vida, os quais, não obstante, podem exercer um influxo deletério e seduzir-te ao mal.

Na verdade, o livro pode-se ter sempre à mão, quer de dia quer de noite, no aposento silencioso, no vagão solitário, à sombra do verde bosque.

Abstém-te dos livros que descrevem, sem nenhum recato, nem qualquer atenção à decência cristã, as coisas mais obcenas, aliciando as mais vis paixões. O mau livro apresenta em capítulos longos, quadros vivos, cenas e debuxos, episódios que estimulam, a imaginação, cativam agradavelmente o coração, alvoroçam as paixões e enchem todo o interior de imagens que, mais tarde, nas horas ociosas da solidão, e até mesmo, no sono, durante a noite, assomam de novo à alma e a precipitam cada vez mais na imundície corruptora.

Eis porque a leitura de maus livros é tão perniciosa; ela atua como veneno mortal. Sorve-o a moça, dia a dia, quase inconscientemente, e mais cedo ou mais tarde, porém, com toda a certeza, se manifestará no coração o seu efeito destruidor. A virtude e a fé se tornarão cada vez mais débeis.

Talvez penses assim: eu preciso esclarecer-me e cuidar de minha formação; devo, portanto, instruir-me e ler também esses livros. Mas que esclarecimento é este, que faz naufragar a fé? Que formação esta, que faz perder a inocência? Não é porventura a fé o maior bem do cristão e a inocência o mais belo ornamento da juventude?

Nas obras de autores ímpios ou imorais, aventa-se mentirosamente a dúvida sobre a fé, como franca pesquisa científica, louva-se a descrença como esclarecimento do espírito, pinta-se o vício com cores brilhantes, e assim te arrebatam o precioso tesouro que é a religião e a virtude.

Não leias pois nenhum livro desses, embora escrito magnificamente - veneno é sempre veneno, mesmo quando apresentado no frasco mais fino.

Se depois do cumprimento consciencioso e fiel dos deveres, tiveres ainda tempo para alguma leitura, lê então bons livros, que te sejam úteis ou que te instruam, de maneira conveniente. Não hás de ler tudo quanto te oferecem, com apresentação magnífica, ou tudo que vês nas vitrines. O forte prurido pela leitura, que te conduz ao abandono dos trabalhos e deveres, não deves permitir que medre em ti.

É mister que anteponhas a execução dos teus trabalhos moderados às demais coisas.

Aconselho-te, outrossim, a adquirires certo domínio sobre a tua curiosidade, interrompendo às vezes a leitura, quando ela se vai tornando muito interessante. Com este processo se fortificará a tua vontade, de modo que poderás oferecer resistência a tudo quanto seja prejudicial à verdadeira felicidade.

Não leias, porém, senão os livros que te edifiquem. Ser-te-á de grande utilidade o leres, cada dia, atenta e vagarosamente, duas páginas do livrinho de ouro "Imitação de Cristo", aplicando a ti mesma o que diz o autor.

Poderei, outrossim, recomendar-te com grande empenho a "Filotéia", de São Francico de Sales, ou o "Combate Espiritual", de Scupoli. Deus também te recompensará, se aqui e ali, em ocasião oportuna, aconselhares, de maneira prudente, um bom livro ou uma boa revista.


(Excertos do livro: Donzela cristã, do Pe. Matias de Bremscheid)

Fonte: blog A grande guerra

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